terça-feira, 27 de outubro de 2009

Valor Econômico - Setor de celulose e papel pressiona por créditos de carbono

Daniel Rittner, de Buenos Aires

Clima: Empresas querem que projetos de plantação de eucalipto tenham crédito por sequestrar carbono


A indústria de papel e celulose, tida por muitos como vilã ecológica, trabalha para melhorar sua imagem e pretende defender suas florestas plantadas de eucalipto - alvo frequente de grupos ambientalistas, que acusam esse tipo de vegetação de acabar com a biodiversidade local. Às vésperas da Conferencia de Copenhague sobre combate a mudanças climáticas, a Associação Brasileira de Celulose e Papel (Bracelpa) coordena uma campanha, com o apoio de empresários de oito países, para incluir o setor no mercado de crédito de carbono.

"O eucalipto brasileiro tem a folha mais produtiva do mundo e também a que mais absorve carbono. Nosso papel é puro carbono sequestrado", diz Elizabeth de Carvalhaes, presidente da Bracelpa, que expôs a proposta na semana passada, em Buenos Aires, durante o Congresso Florestal Mundial. Segundo ela, as florestas plantadas de eucalipto no Brasil ocupam uma área de 2 milhões de hectares e absorvem 64 milhões de toneladas de CO 2 equivalente por ano.

Em todo o processo produtivo, nas 220 fábricas de papel e celulose do país, emitem-se 21 milhões de toneladas/ano. "Temos um saldo favorável de 43 milhões de toneladas/ano, mas não podemos vendê-las como crédito de carbono aos países industrializados."

A barreira para isso está no formato atual do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) e sua previsão de que o carbono armazenado em projetos florestais corre "risco de não permanência". Ou seja, nada garante que os eucaliptos de hoje estarão de pé no futuro. Para vencer essa restrição, a Bracelpa defende a implementação de seguros e monitoramento periódico, em troca da inclusão das florestas.

A proposta é apoiada por fabricantes de outros oito países que obtêm matéria-prima só de florestas plantadas: Argentina, Chile, Uruguai, África do Sul, Austrália, Nova Zelândia, Espanha e Portugal. No Brasil, a indústria de celulose se aliou a canavieiros e agricultores para formar a Aliança Brasileira pelo Clima e pressionar o governo a endossar o pleito.

Carvalhaes prefere não fazer estimativas sobre o potencial de ganho financeiro do setor se a proposta vingar. Acha que "ninguém plantará um hectare de florestas a mais só para vender crédito de carbono", mas está convencida de que os milhões de dólares que isso acrescentaria às empresas podem ser a diferença entre construir ou não uma nova fábrica. "Até 2017, podemos ultrapassar a China como maior produtor mundial de celulose. Já existem planos de investir US$ 20 bilhões nesse período e expandir a área plantada em 25%", detalha a executiva.

O mercado de celulose vive uma recuperação da crise, mas ainda está longe do clima de euforia de julho de 2008, quando o preço da tonelada alcançou US$ 840. Chegou a baixar para US$ 480 em janeiro, mas depois se reergueu e atinge US$ 650 hoje.

A rigor, a proposta desenhada pelo setor pode não trazer ganhos ambientais, já que significa apenas que os países com excedente de emissões de gases-estufa possam compensá-las comprando créditos da indústria de celulose. "Somos favoráveis a que os países industrializados assumam metas importantes de redução das emissões. Mas só a melhoria dos processos produtivos não permite aos países alcançar tais metas."

Para Carvalhaes, a inclusão das florestas plantadas no MDL significaria, além de milhões de dólares a mais, uma espécie de "selo verde" para o setor. "Ainda pensam que fabricamos papel a partir de desmatamento na Amazônia."

Embora não use mata nativa, a indústria brasileira de celulose está na mira do Bank Track, uma lista de projetos elaborada por ONGs de todo o mundo que busca suspender financiamento a empreendimentos danosos ao ambiente.

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