terça-feira, 20 de outubro de 2009

Desafios para Copenhague

Amelia Gonzalez

Para o embaixador extraordinário de mudanças climáticas do Itamaraty, Sérgio Serra, a Conferência das Partes da Convenção do Clima (COP-15), que vai acontecer daqui a pouco menos de dois meses em Copenhague, não vai negociar um novo acordo climático, mas sim a continuidade dos acordos que já foram propostos. Sérgio Serra foi o palestrante que abriu o debate organizado pela revista "Carta Capital" e pela agência de notícias Envolverde na semana passada em São Paulo, sob o título "A Rota para Copenhague".


Segundo Serra, que tinha acabado de chegar de Bangkok, onde aconteceu uma das muitas reuniões preparatórias para Copenhague, o maior desafio para o fim do ano é que os resultados das negociações sejam ditados pela ciência: O que pretendemos agora, em Copenhague, é um resultado robusto, é que as negociações sejam ditadas pelo IPCC (Painel Intergovernamental das Mudanças Climáticas), porque em Kioto o IPCC ainda estava nascendo, então ficamos num número modesto de emissões: média de 5,2% de redução de 2000 a 2012. A implementação desta meta é um problema menor, porque os países poderão cumprir. Ocorre que, segundo Kioto, os países deveriam adotar políticas nacionais de redução de suas emissões e poucos o fizeram.

O Brasil, por exemplo, só lançou seu plano há um ano.

Um grande desafio para que de Copenhague saia uma negociação satisfatória, ainda segundo o embaixador, é que alguns países desenvolvidos estão querendo fazer descarrilhar as negociações de Kioto.

Países como Austrália, Japão, Canadá e Rússia nunca fizeram segredo de que preferem um novo acordo que englobe o compromisso de todos, que incluísse os Estados Unidos e os países em desenvolvimento, e não ter dois trilhos de negociação. Ocorre que nesta última reunião de Bangkok, preparatória, da qual participei, a União Europeia derrubou isso, não quer estar obrigada comparativamente aos Estados Unidos em documentos legais separados, ela quer um documento só, mas que se importem os elementos principais de Kioto. A meu ver, essa posição da União Europeia foi uma bomba que caiu sobre as negociações, porque se os Estados Unidos não ratificaram Kioto, por que ratificariam um documento que contém as cláusulas de Kioto? - disse ele.

A próxima rodada de negociações será em Barcelona, e no mês que vem haverá uma pré-COP já na Dinamarca, uma tentativa de que, durante a COP15 as negociações já estejam minimamente acordadas. Com relação ao Brasil, Sérgio Serra prevê que o plano nacional de desmatamento proposto pelo presidente Lula, com metas internas em 80% já levariam a uma diminuição significativa das nossas emissões: Dentro do programa Redd (Redução de Emissões para o Desmatamento e Degradação) ou Redd plus (que inclui a gestão sustentável das florestas), que seria uma espécie de financiamento da mitigação, poderemos deixar de emitir tanto, o que nos incluiria num resultado robusto que o Brasil espera de Copenhague disse ele.

No entanto, para o professor e físico José Goldemberg, palestrante da parte da tarde do encontro, o programa Redd nada mais é do que filantropia: Sou cético com relação à filantropia, e acho que Redd é filantropia, prefiro acreditar no reflorestamento, que é um meio produtivo. Portanto, os países desenvolvidos desqualificam o etanol e dizem que só tem aqui no Brasil.

Não é verdade, ele é característico de toda a área tropical.

O professor acredita que há uma forma de promover o reflorestamento, gerando emprego para milhares: - O reflorestamento é a melhor maneira de recuperar o carbono, o que se quer levar para Copenhague. As outras técnicas estão sendo ainda estudadas, como a captura do carbono, em que o gás é capturado, purificado e depois levado para um posto de petróleo exaurido e depositado lá sob alta pressão. É uma técnica que vai encarecer a eletricidade. Os EUA estão investindo US$ 3,6 bilhões em projeto piloto e o único projeto piloto que está sendo testado é na Noruega. Portanto o único meio de capturar é o reflorestamento e não depende de tecnologia que a gente não conhece.

Goldemberg preferiu focar sua palestra na questão energética. Lembrou que o petróleo representa 33% da energia usada em todo o mundo: - O carvão é 27% e o gás natural, 20%. Ou seja, combustíveis fósseis representam 80% da energia que é consumida no mundo todo hoje. Não é um problema para as futuras gerações, mas para as gerações atuais.

No debate ficou claro também que o encontro em Copenhague tem feito com que as empresas comecem a pensar no médio e longo prazos. Ricardo Young, presidente do Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social, que atuou como moderador na mesa de debates, lembrou que o que as corporações querem é mais clareza dos governos: - Elas querem que os governos sejam claros e, se tiverem que assumir algum risco, que assumam de forma transparente. Claro que há empresas que querem manter as coisas como elas estão, mas as mais avançadas já estão antenadas - disse ele.

Corroborando a fala de Young, o diretor de meio ambiente da Odebrecht, Sergio França Leão, disse que sua empresa está reunida para publicar sua política de sustentabilidade este ano.

GOLDEMBERG: "Sou cético com relação à filantropia e, para mim, REDD é pura filantropia"

SÉRGIO SERRA: "A União Europeia quer um documento só, mas que se importe elementos de Kioto"

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