terça-feira, 20 de outubro de 2009

Antecipando Copenhague


Artigo
Edward Samuel Miliband

Na Europa, países desenvolvidos se reúnem em dois fóruns preparatórios antes da Conferência de Copenhague, em dezembro


Faltando menos de 50 dias para Copenhague, Londres sediou duas importantes reuniões internacionais para o clima, o Fórum das Maiores Economias (MEF) e a Conferência de Líderes sobre Sequestro de Carbono (CFLS).

Primeiro, ministros de 20 países, incluindo do Brasil, se encontraram na CFLS e, em seguida, os representantes das 17 maiores economias do mundo se juntaram para definir princípios para a Conferência das Partes (COP-15) que será realizada em dezembro.

Durante a CFLS nós discutimos a tecnologia que pode resolver o dilema das emissões do gás dióxido de carbono (CO2) de refinarias de gás e óleo, e das geradoras de energia a carvão: o sequestro e armazenamento de carbono (SAC). A Conferência, realizada em conjunto pelo Reino Unido e Noruega, focou nos desafios que existem nessa área e como se pode atingir um progresso global.

O SAC é uma tecnologia que tem potencial para remover 90% das emissões de CO2 das usinas de energia abastecidas a carvão. O dióxido de carbono fica preso nos dutos de exaustão das estações e então é transferido para canos especiais, para ser armazenado de forma segura a longo prazo.

Mas é preciso aumentar a cooperação e a troca de conhecimento entre países desenvolvidos e em desenvolvimento nessa área. Acreditamos que sem o uso dessa tecnologia, o custo de intervir nas mudanças climáticas crescerá em 70%.

Se formos efetivamente realizar as mudanças de que precisamos, os países que trabalham com essa tecnologia deverão colaborar para que o SAC se torne uma opção viável para os principais usuários mundiais de combustíveis fósseis.

O desafio é que algumas tecnologias do SAC são novas e complexas. Será preciso uma ação conjunta para transformar as demonstrações em pequena escala que nós temos para a operação básica das usinas de energia. A escala de mudança necessária irá rivalizar com os grandes avanços industriais e de engenharia da humanidade. Essa transformação terá ainda de ser rápida, se quisermos fazer a transição a tempo de enfrentar as mudanças climáticas.

O Reino Unido já tem planos ousados para o uso do SAC. As novas usinas de carvão terão de seguir especificações extremamente rígidas. Temos também planos de apoiar quatro usinas comerciais completas de sequestro e armazenamento de carbono para demonstrar a tecnologia. Bilhões de libras estão sendo liberadas para apoiar a tecnologia de carvão limpo e da captura de carbono.

O Brasil fez ótimos progressos para demonstrar a eficácia da captura de carbono e tem investido em geração de conhecimento e treinamento. Essas tecnologias já vêm sendo usadas pela Petrobras há décadas. Principalmente no processo de recuperação aumentada de petróleo e gás. Sabemos que o Brasil está investindo nessa tecnologia e que o país oferece boas oportunidades de custo benefício para o uso do SAC.

Na semana em Londres, participei de debates sobre planos globais para o SAC. Estive presente inclusive em reuniões com representantes da Europa e da China. Discutimos planos para o desenvolvimento conjunto da primeira usina comercial de sequestro de carbono da China.

O Ministro de Energia dos Estados Unidos, Steven Chu, nos contou a experiência de uma usina comercial que já está em funcionamento em seu país. Com os países parceiros, que também são banhados pelo Mar do Norte, conversamos sobre o papel que esse mar pode ter no armazenamento do carbono sequestrado.

As discussões da Conferência de Líderes sobre Sequestro de Carbono serão apresentadas durante o encontro do Fórum das Maiores Economias (MEF). Os 17 membros desse fórum e os países convidados se reuniram para tentar chegar a um entendimento conjunto e a um consenso sobre princípios gerais antes do grande encontro de dezembro.

Estou muito satisfeito porque países vulneráveis como Bangladesh, Maldívias e Costa Rica estarão participando das reuniões desta semana, para que possamos ter também as visões deles na mesa. É uma ironia triste que aqueles que são menos responsáveis pelas mudanças climáticas sejam os mais afetados por elas.

As reuniões formais nas Nações Unidas são importantes, mas é necessário que processos paralelos, como o MEF, aconteçam para que tenhamos o acordo ambicioso de que precisamos. Queremos reduzir o número de questões em que há desentendimento, para que ao chegar em Copenhague já tenhamos uma pauta ainda mais definida.

Estamos debatendo os principais assuntos que serão tratados na Conferência das Partes. Mitigação, florestas, transferência de tecnologia e a questão de financiamento. Quanto a esta última, a principal discussão é como regular o fluxo de financiamento para os países que precisam.

O Reino Unido propôs um fundo de 100 bilhões até 2020 para ajudar os países em desenvolvimento a se proteger das mudanças climáticas. O financiamento é para que esses países possam desenvolver seus planos de ação para reduzir emissões de gases estufa usando tecnologia sustentável, diminuir o desmatamento e criar mecanismos de adaptação.

Faltam menos de 50 dias para Copenhague. Estamos preparados para dar tudo de nós até a Conferência. Como disse o Primeiro-ministro Gordon Brown, há poucas ocasiões em que as nações se unem e conseguem fazer história. Copenhague tem de ser uma dessas ocasiões. É uma grande responsabilidade, pois uma vez que deixemos as mudanças climáticas seguirem seu curso, não haverá chance de voltar atrás e tentar novos acordos.

Não há segundas chances quando se trata de mudanças climáticas, então não podemos desperdiçar um dia entre agora e Copenhague. Temos de usar cada oportunidade - como as conversas que ocorreram essa semana em Londres - para pressionar pelo acordo mais ambicioso, eficiente e justo possível.

Edward Samuel Miliband, ministro de Energia e Mudanças Climáticas do Reino Unido, é do Partido Trabalhista; já foi ministro do Terceiro Setor do governo britânico, de 2006 a 2007, e membro do conselho de consultores de Gordon Brown quando ele era ministro das Finanças.

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